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Bolívia Zica

Se ficar no PSG, Neymar vai encarar o clima pesado que ele mesmo criou

Bolívia ZIca

01/09/2019 15h59

Lembra daquele Neymar que jogava muita bola, metia gol, dava assistência, sorria e era feliz no ataque ao lado de Messi e Suárez? Campeão da Champions metendo gol na final, campeão mundial, fora os Campeonatos Espanhóis, Copas do Rey e Supercopa da Espanha? Um Neymar polêmico e baladeiro como sempre, mas que em campo se garantia e era considerado um dos cinco melhores jogadores do mundo? Pois este era o Neymar há exatos dois anos, antes de tomar a decisão mais equivocada de sua conturbada carreira.

O problema não foi apenas trocar o gigante Barcelona, pentacampeão europeu, pelo Paris Saint-Germain, um time que quer fazer parte da primeira prateleira, mas está longe disso. Em termos de importância, tradição, títulos e camisa, a mudança já foi um passo para trás. Por mais que um bilionário catari invista toda sua riqueza e compre tudo que puder, o clube francês jamais será um Barça.

Porém, existe um erro maior do que a troca em si: suas motivações.

O pai do jogador é quem manda. E ele tem mania de grandeza. Nunca está satisfeito. Quer sempre mais. Botou na cabeça do filho que não tem ninguém melhor. Que ser parceiro do Messi já era pouco. Que estava na hora do filhão ter um time para chamar de seu. Elevar esse time a outro nível sozinho, ganhando a Champions. Mandar em tudo. Ser o rei de Paris. O camisa 10, capitão, referência. O dono da bola que, quando perde o jogo, não quer mais brincar e leva a bola para casa. E foi exatamente assim que Neymar chegou na cidade, lembra?

Cavani já era ídolo da torcida. Mas o filho do Sr. Neymar, apesar de novato no clube, pegou a bola da mão do uruguaio na hora do pênalti. Foi o prenúncio da catástrofe. Os títulos nacionais não são capazes de maquiar o fracasso. Em dois anos, Neymar perdeu o carinho da torcida do seu clube e de boa parte da torcida brasileira. Perdeu valor e perdeu mercado também. E quando parecia que nada poderia ser mais constrangedor do que sair pela porta dos fundos, eis que o noticiário garante que Neymar será obrigado a ficar no PSG.

Situação embaraçosa para todos. Mas a impressão que dá é que os dirigentes franceses estão achando muito bem feito. Como se fosse um castigo merecido. Caso não seja negociado, terá de lidar com o clima pesado que ele mesmo criou. No dia a dia, com os cartolas, companheiros de time e torcedores, que outro dia estenderam uma faixa escrito Fora Neymar.

É uma pena. Entrevistei o atacante no Parque dos Príncipes pouco antes da Copa, e na ocasião ele se mostrou um cara tranquilo, educado e cordial. Pelo talento que tem, poderia ter cuidado melhor da carreira, se não deixasse tudo ao gosto duvidoso do pai. De qualquer forma, depois de tanta tempestade, em Paris ou não, Neymar tem um longo recomeço pela frente. Cabe a ele escolher entre ser o eterno Júnior ou finalmente ser o Neymar.

 

Sobre o Autor

Jornalista de formação, amante do futebol por paixão e corneteiro por vocação. Apresentador do canal Desimpedidos. Comanda o Bolívia Talk Show.

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As opiniões do personagem não refletem necessariamente a opinião do homem por trás da máscara. Mas quase sempre sim.