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Técnico cascudo ou novato: o dilema da vez

Bolívia ZIca

12/04/2019 18h43

O Thiago Larghi vinha fazendo um bom trabalho no Atlético Mineiro. Teve uma sequência ruim e logo foi demitido. Foram buscar um Levir Culpi semi-aposentado, quieto no canto dele. Praticamente imploraram para ele aceitar o convite, e ele aceitou. As coisas não andaram como todo mundo imaginou, a campanha na Libertadores é péssima e a o goleada de 4 a 1 para o Cerro Porteño foi a gota d'água. Mandaram o Levir embora e logo começou um movimento na internet para pedir o quê? A volta do Larghi!

Esse é o atual retrato do dilema que ronda a cabeça de dirigentes e torcedores na hora de apostar no trabalho de determinado técnico. E que resulta nesse comportamento bipolar. Precisamos de um técnico jovem, com ideias novas! Precisamos de um treinador cascudo, que saiba domar o elenco! Sempre que um cai, a solução é sempre apostar no oposto. Isso pode até ser natural, mas não deveria ser o fator determinante.

Quando chamaram o Levir, era porque o elenco do Galo é envelhecido, cheio de medalhões. E geralmente se pensa em um treinador experiente para lidar com ele. Faz sentido. Perguntei pra alguns jogadores que entrevistei com qual perfil de técnico eles preferem trabalhar. E a maioria respondeu que era com os mais cascudos. Que eles têm mais respeito por toda bagagem que carregam.

Porém, nem sempre funciona assim. Fábio Carille, em 2017, entrou no cargo e levou o Corinthians aos títulos paulista e brasileiro. O grupo comprou a ideia do novato. Já o Grêmio do Renato, o Cruzeiro do Mano e o Palmeiras do Felipão também foram campeões. E com treinadores tradicionais (o Renato já entra nessa categoria). A relação entre técnico e jogadores pode passar pela moral que o cara tem, mas depende de muitos outros fatores no dia a dia pra dar certo.

Um técnico novo pode ganhar o respeito dos caras e um experiente pode perder. Não depende da idade e nem da bagagem. Depende da habilidade do treinador em tirar o máximo do grupo, não dar privilégios, dar oportunidade a todos que merecem, saber montar variações de esquema e fazer o time andar. E é claro que não dá pra botar toda a responsa nas costas dele. Os jogadores precisam colaborar também. Complexo como todo relacionamento.

Tem hora que não dá mais pra acreditar que a coisa vai mudar. E essa hora, para o Atlético, veio bem antes da final do Mineiro, contra o grande rival, que está voando. Sobrou pro Levir e pra alguns jogadores mais velhos, como Elias e Fábio Santos, alvos de protestos da torcida. Na verdade, a impressão que dá é que ninguém ali estava a fim. Em BH, estavam chamando o Levir de "gato de armazém". Aquele que fica ali, de boa, na preguiça. Ele claramente não tentou algo diferente do que sempre fez. Não sei nem se tem vontade de fazer isso a essa altura da carreira. Mas a boleiragem também estava numa tiriça desgraçada! Tragédia anunciada.

Agora resta saber se o problema era mesmo o Levir. Se o clube optar por um treinador mais jovem, que dê a ele tempo para mostrar seu trabalho. Não seja ansioso e impulsivo como foi com o Larghi. Eu gosto da ideia de renovação, mas não é sobre a idade, e sim sobre a capacidade de inovar, reinventar seus conceitos, criar caminhos alternativos de acordo com a situação. É questão da cabeça do cara, e não da grossura da casca.

 

 

 

Sobre o Autor

Jornalista de formação, amante do futebol por paixão e corneteiro por vocação. Apresentador do canal Desimpedidos. Comanda o Bolívia Talk Show.

Sobre o Blog

As opiniões do personagem não refletem necessariamente a opinião do homem por trás da máscara. Mas quase sempre sim.