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Bolívia Zica

O Corinthians ainda é o time do povo?

Bolívia ZIca

18/02/2019 23h42

Foto: Alan Morici/AGIF

Na mesma semana, o Corinthians divulgou seu novo camarote com ofurô na Arena e sua nova campanha, "Corinthianismo", a religião do corinthiano, que tem até seus 10 mandamentos. A inspiração para o vídeo é uma declaração do saudoso Sócrates, que completaria 65 anos hoje. "O Corinthians é muito mais do que um clube de futebol. É uma religião. Uma voz. O Corinthians é uma força, é uma forma de expressão que a sua população tem".

Só de fazer uma metáfora com religião, o vídeo já nasceu polêmico. Ao resgatar os valores mais importantes da história do clube, que são sua torcida e seus ídolos de um passado raiz, gerou mais barulho ainda. A campanha é pesadona. Toca o torcedor no ponto que o corinthiano gosta. Mas estariam as célebres frases do Doutor e o lindo vídeo fora de tempo e espaço? O mandamento número 8 da campanha diz: "Este time só tem um dono. Este time é do povo". Será que ainda é?

Postei no Twitter uma crítica ao espaço gourmet com banheira do Gugu em plena Arena Corinthians.


Para mim, é uma aberração um camarote como esse em um estádio de futebol. Ainda mais em Itaquera. Ainda mais na casa do povo, como o próprio letreiro dentro do estádio determina.

Quem compra um camarote com piscininha, amor não é "Sofredor hoje, sofredor amanhã, sofredor para sempre, graças a Deus", como diz o mandamento nº 7. Porque simplesmente não pode sofrer quem não assiste e sente o jogo, torce e "Grita mais forte quando o Timão está perdendo", segundo o mandamento nº 6. Está curtindo outro prazeres, ferindo o mandamento nº 2: "Nada é mais importante do que o jogo do Corinthians". Está mais preocupado com o status e com os likes depois que postar a foto e o vídeo no Instagram.

Muita gente discorda:

A verdade é que o Corinthians foi zuado durante anos por não ter estádio. Construiu um, suntuoso, entrada toda em mármore, banheiros luxuosos, restaurantes. Tudo muito bonito. Foi abertura da Copa e tal. Mas aí… A conta chegou. Sem naming rights e sem shows pra bancar o custo. As arquibancadas democráticas do Pacaembu deram lugar aos camarotes elitistas da Arena. Os preços dos ingressos ficaram muito altos. O perfil da torcida no estádio, claro, mudou. O torcedor mais humilde, aquele que sofre mesmo, aquele que guarda dinheiro por meses pra poder comprar uma camisa, só consegue ir nos treinos abertos, que custam 1kg de alimento não-perecível. A festa é bonita. Pode entrar com bandeira, batuque, sinalizador, fumaça. Pode entrar com o povão.

Eu sei que os tempos são outros, o estádio custou caro e precisa ser pago. No Pacaembu, os menos abastados podiam comprar um ingresso de Tobogã de vez em quando. Hoje, passam longe. Continuo achando muito melhor ampliar o setor popular e meter 40 mil em todo jogo do que fazer a tal piscininha. Seria mais fiel com sua torcida e mais rentável, inclusive.

Sobre o Autor

Jornalista de formação, amante do futebol por paixão e corneteiro por vocação. Apresentador do canal Desimpedidos. Comanda o Bolívia Talk Show.

Sobre o Blog

As opiniões do personagem não refletem necessariamente a opinião do homem por trás da máscara. Mas quase sempre sim.