Tenho algo raro: uma entrevista incrível do Dunga
Quando se fala em Dunga, a maioria dos brasileiros fecha a cara, como ele mesmo sempre gostou de fazer. Nunca foi de sorrir, alisar, ser simpático, político ou fugir do embate. Dentro e fora de campo. Seja como um volante cão-de-guarda, um capitão respeitado ou o treinador da Seleção Brasileira.
Todo mundo, ou quase todo mundo, lembra com desgosto das passagens de Dunga pelo comando técnico do Brasil. Um cargo honrado e maldito ao mesmo tempo. Estar à frente da maior seleção do mundo (ainda somos os únicos pentacampeões) é também ser questionado a cada dia e ser xingado de burro caso não ganhe dando show. E Dunga, definitivamente, não foi exceção.
Em sua primeira passagem, ganhou Copa América e Copa das Confederações. Para o Mundial 2010, não quis atender o clamor popular pela convocar do até então menino Neymar. Chamou o Grafite. O Brasil fez um bom primeiro tempo contra a Holanda. Uma desatenção aqui, um destempero ali, e o já era. Eliminado. O técnico foi junto. Na segunda vez, o peso veio dobrado com o trauma pós-7a1. O povo queria uma novidade para celebrar. A CBF voltou a chamar Dunga. Perdeu para o Paraguai, nas quartas da Copa América.
Mas o que as pessoas menos gostam nele é a antipatia, a cara azeda, o mau humor, as patadas nas entrevistas. Pois em um evento da Adidas me foi oferecida a chance de gravar o Bolívia Talk Show. E o que aconteceu lá já aconteceu várias outras vezes: aquele cara que tem fama de chato se mostra uma pessoa muito mais maleável pessoalmente.
Entrei no camarim. Estavam sentados Parreira e Gilmar Rinaldi. Em pé, Dunga e Jair Ventura trocavam uma ideia. Fui logo indo cumprimentar o Jair, quem entrevistei no CT Rei Pelé, quando ele ainda treinava o Santos. Aí o colega da Adidas foi pedir para o Dunga gravar comigo. A cara dele foi aquela que vocês conhecem muito bem. Zero receptivo. O Jair foi parceiro: "Pode gravar, Dunga, é bem legal". Meio a contra-gosto, ele foi. E então, em cinco minutos de entrevista, o semblante ficou de um jeito que talvez vocês não conheçam. Eu não conhecia.
Perguntei tudo que quis para o Dunga. Copa de 90, Lazaroni, Era Dunga, Maradona fazendo a jogada do gol do Caniggia, liderança no tetra, desabafo ao erguer a taça, Galvão Bueno, Romário, Ronaldo, Ronaldinho, Gre-nal, Alex Escobar, relação com a imprensa, dirigentes da CBF, patrocinadora da Seleção, tudo.
Lembrei de levar minha camisa do tetra, que já tinha os autógrafos de Romário e Bebeto, para aquela relíquia ganhar o carimbo do capitão. O que esse cara jogou nos Estados Unidos não foi brincadeira. Dominava a meiuca. Marcação implacável e lançamentos precisos. Fora a moral que impunha. Ganhei um cachorro logo depois da Copa, e o nome dele fui eu que dei: Dunga. Até contei essa história para ele. A entrevista teve que ser feita meio às pressas por conta de agenda. Mas deu para ficar imperdível.
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