O acaso fez o que deveria ser feito
"Eu não vou abrir mão da qualidade técnica do Neymar. Vou com ele até o final. A não ser por uma situação excepcional". Essa foi a frase de Tite ontem, na coletiva pós-amistoso. Se um soco no torcedor e uma gravíssima acusação de estupro, com a presença da polícia na Granja Comary, não configuram uma "situação excepcional", o que precisaria acontecer para o técnico deixar o camisa 10 de lado, cuidando de seus problemas?
Para mim, era o momento preciso de cortar o atacante da Copa América. Pelo bem dele, do grupo, do treinador, de todo mundo. O cara não está em condições emocionais de se dedicar 100% a jogar futebol e disputar um torneio importante. Seus problemas fora de campo afetam o grupo. Viram o tema central de uma delegação inteira. Viram problemas de 23 jogadores, técnico, assistente, assessor, médico, massagista, roupeiro. O Tite mesmo, em vez de pensar em soluções para o time jogar bem mais do que vem jogando, variações táticas e tudo mais, tinha um caso de polícia para cuidar.
E já que nem o técnico e nem o jogador perceberam o que tinha de ser feito, o acaso foi lá e fez. Da pior maneira. A contusão foi feia. Mais uma para a coleção dos últimos anos. Fato é que Neymar terá bastante tempo e tranquilidade para resolver suas tretas, que não são poucas e nem pequenas. Se for esperto, aproveitaria para repensar absolutamente tudo. A maneira que se comporta dentro e fora de campo, as relações que estabelece e se quer mesmo que sua carreira no futebol volte a decolar.
Em 2014, o time ruiu quando Neymar saiu machucado contra a Colômbia. Em 2018, o jogo continuou concentrado no camisa 10, que havia passado o ano inteiro se recuperando de lesão e chegou à Rússia baleado. Está numa boa hora para o Brasil aprender a jogar sem ele. Prometo que pode ser bom. Sem um centro de gravidade. Responsabilidades divididas.
Outra frase na coletiva me chamou a atenção. Edu Gaspar disse, e não se trata de uma piada, que "a Seleção buscava amistosos com equipes que nos complicassem o jogo, dificultassem algumas situações. E quando passaram à Comissão Técnica a opção de jogar com o Catar, claro que foi muito bem-vinda". Ah, desculpa, mas na moral, vá te catar.
Não quer falar o real motivo, então fale qualquer outra groselha, menos essa. Uma declaração assim é um tapa na cara do torcedor. O ambiente na CBF é algo muito obscuro e intrigante. Difícil saber como funcionam as coisas por lá. Do lado de cá, continuo torcendo para o time se sair muito bem e não depender de um único jogador.
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