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Bolívia Zica

Simbólico ou não, Neymar não pode ser capitão

Bolívia ZIca

24/05/2019 22h06

Quando a gente volta a criticar uma atitude do Tite ou do Neymar, parece que estamos pegando no pé. Não é bem assim. Eu sempre achei o Tite um treinador de primeira linha, chegou a ser uma unanimidade na Seleção, e também vejo no atacante do PSG um jogador excepcional, fora da curva. Mas a insistência dos dois em algumas atitudes extremamente impopulares fica difícil de defender.

Foto: Marcello Zambrana/AGIF

Digo impopulares porque estamos às vésperas de uma Copa América no Brasil. Normalmente, seria motivo de festa e empolgação. Só que o clima hoje é muito mais de protesto, desconfiança e contestação. A Seleção se distancia do torcedor brasileiro cada vez mais, e os motivos vão além do insucesso nas últimas Copas. Seria muito legal sediar o torneio sul-americano como o grande favorito e com apoio irrestrito das arquibancadas. O Brasil segue sendo o favorito, ou pelo menos um deles, mas vai estrear sob milhões de pés atrás e narizes torcidos. Da sua própria torcida.

O povo anda tão pistola que, nas enquetes feitas na internet, 80% pediam a não-convocação de Neymar pelo soquinho no torcedor. Eu não sei se essa seria a melhor solução. Fico na dúvida. O que eu sei é que o goleiro Ederson declarou que Tite já deixou claro: Neymar continuará como capitão da equipe.

Além de não ter nenhum traço de capitão em seu perfil, tanto no comportamento dentro de campo como fora dele, Neymar tem perdido chances de gerar mais empatia com o torcedor. Não existe motivo aparente para continuar tratando o atacante como o líder do time, o exemplo a ser seguido, a referência. Ele já carrega muitos holofotes, muitas responsabilidades, pressões e tudo mais. Não precisava de mais essa. Acho que, em vez de dar moral, uma moral que no momento ele não merecia, ainda atrapalha.

Neymar não é o tipo de jogador que sabe o momento de acalmar os ânimos. Ou de botar pilha. Ele joga sempre do mesmo jeito, indo pra cima, provocando, devolvendo as provocações, driblando, prendendo a bola para irritar. Seu estilo ousado gera situações que muitas vezes ele não tem paciência ou sangue frio para não reagir. Sempre toma amarelo. Às vezes é expulso. Depois da eliminação da Copa, não falou com a imprensa. Ou seja, a braçadeira de capitão não combina com ele, que já tem a braçadeira invisível de craque do time.

Tem gente que acha essa coisa de capitão uma besteira. Para mim, é diferente. Existe sim uma função especial de liderança dentro de campo. E se for mesmo uma coisa simbólica, pior ainda, porque passaria outra impressão do que é ser capitão de uma seleção pentacampeã.

O Brasil pode encaixar esse time, que tem uma molecada boa, e ganhar essa Copa América com o Neymar jogando o fino? Pode. Tomara! Vou torcer para isso. Não sou dos que torcem contra a Seleção. Quero que a camisa volte a entortar o varal e meta medo no mundo inteiro. Mas se o Tite realmente confirmar o que o Ederson disse, começa a caminhada com mais um passo para trás.

 

Sobre o Autor

Jornalista de formação, amante do futebol por paixão e corneteiro por vocação. Apresentador do canal Desimpedidos. Comanda o Bolívia Talk Show.

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As opiniões do personagem não refletem necessariamente a opinião do homem por trás da máscara. Mas quase sempre sim.