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Bolívia Zica

Tite, bota a molecada antes que seja tarde

Bolívia ZIca

17/05/2019 16h58

Em 2010, o Brasil inteiro pediu a convocação de Neymar e Ganso, dois moleques que estavam voando no Santos. Dunga bateu o pé e disse não. Após a derrota para a Holanda, a reclamação foi forte. Até hoje se fala nisso. Que é preciso preparar jovens promessas, ou até mesmo jovens realidades, para as Copas seguintes, incluindo-as no grupo dos principais torneios. Para que esses meninos comecem a entender a responsabilidade e o prazer que é jogar na Seleção.

Agora é a vez de Tite. Um técnico que sempre preferiu escalar os mais experientes e cascudos. Quando lança meninos no time, é com extrema cautela e moderação. O Corinthians campeão da Libertadores, por exemplo, era um time de medalhões. E é assim, bem devagar, que o treinador está promovendo a renovação que a Seleção precisa.

Muita gente diz que futebol é momento. Em um torneio de tiro curto, como a Copa do Mundo, mais ainda. Porém, para Tite, mais do que momento, futebol é confiança. Vale muito mais trabalhar com os jogadores que ele conhece e confia do que apostar no momento iluminado que eles atravessam.

É por isso que Lucas Moura, 26, ficou de fora. Está claro que o técnico não considera o atacante do Tottenham um jogador de Seleção. Nem mesmo a boa temporada no finalista da Champions e os três gols decisivos na semifinal contra o Ajax foram suficientes. Por sua vez, Coutinho fez uma temporada ruim no Barcelona, é constantemente criticado pela torcida e ainda assim ganhou vaga na lista da Copa América.

Fernandinho é um caso curioso. Está bem como titular do City, campeão inglês. Mas ficou marcado depois do 7 a 1 e da eliminação para a Bélgica. Tem um histórico ruim com a camisa do Brasil, além dos seus 34 anos. Provavelmente não participa de mais uma Copa. Eu teria levado o Fabinho, muito bem na volância do Liverpool e com muito mais vida útil no futebol por ter apenas 25 anos.

Também não levaria o Thiago Silva e o Miranda juntos. Um só tudo bem, para passar experiência. Mas já temos Dani Alves e Filipe Luís na linha defensiva! Pela idade avançada, nenhum deles chega até o Catar. Marquinhos e Militão despontam como favoritos para formar a dupla de zaga no futuro. Eu teria chamado o Dedé, que tem 30 anos e eventualmente pode jogar o próximo Mundial.

Levaria também o Vinicius Jr, mesmo voltando de lesão. Talvez no lugar do Gabriel Jesus, que passou a maioria da temporada no banco. É bom jogador, fez seus gols, foi o vice-artilheiro do time, mas não tem brilhado. Para a posição de centroavante, podemos utilizar o Firmino ou o Richarlison. Na Copa, Jesus teve obrigações defensivas e tentou abrir espaços para outros entrarem na área. Não deu certo. Pelo menos Tite não chamou Renato Augusto e Paulinho. O resto da lista está ok e bate com o gosto do povo.

Neymar: difícil. Não acharia errado se ele ficasse de escanteio dessa vez. Até mesmo pensando em um futuro com uma postura diferente. Mas também não acho o fim do mundo ter convocado, pela importância técnica. Fim do mundo é continuar passando a mão na cabeça em qualquer situação, dar a braçadeira de capitão e tratá-lo como intocável. Convocando ou deixando de fora, o mais importante é a forma como ele será tratado de agora em diante. Algo diferente precisa ser feito.

Então, Professor, chegou a hora de botar a molecada para jogar. Mete sangue novo! Se a geração não é tão brilhante como a de outros tempos, pouco importa. Se não ganharmos essa Copa América, tampouco (embora saiba que seu emprego pode depender disso). O que interessa é que esses mesmos moleques representarão o Brasil na próxima Copa do Mundo, nosso grande e verdadeiro desejo. E quanto antes se trabalhar, der entrosamento, definir o papel de cada um no time e no grupo, melhor. Ou vamos esperar eles ficarem velhos assim?

 

Sobre o Autor

Jornalista de formação, amante do futebol por paixão e corneteiro por vocação. Apresentador do canal Desimpedidos. Comanda o Bolívia Talk Show.

Sobre o Blog

As opiniões do personagem não refletem necessariamente a opinião do homem por trás da máscara. Mas quase sempre sim.