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Bolívia Zica

O dia que a maionese desandou no BTS

Bolívia ZIca

21/03/2019 19h48

Já gravei 145 edições do Bolívia Talk Show. Jogadores, ex-jogadores, técnicos, narradores, comentaristas. Pelé, Zico, Romário, Edmundo, Kaká, Ronaldinho, Neymar e mais uma porrada. Cada resenha se desenrola de um jeito, é sempre uma novidade. Mas tem certos convidados que me deixam com uma empolgação extra. E normalmente são aqueles com quem temos uma relação afetiva de infância.

Romário foi o maior deles. Foi o primeiro grande craque brasileiro que eu vi jogar (Zico, Sócrates, Falcão e companhia eu ainda era muito novo pra lembrar com clareza). Foi na Olimpíada de 1988. Virei fã e mais tarde vi o Baixinho trazer a primeira Copa do Mundo que vi o Brasil ganhar. Não tem como, quando você é moleque, tudo fica mais mágico, mais lúdico, mais bonito na lembrança. Depois você vai virando adulto, vivendo muita coisa, se acostumando, trabalhando com isso, e tudo muda de figura.

Silvio Luiz também foi um desses. A narração esculhambada no bom sentido dava outra graça a um jogo de futebol. Eu adorava. Quantos e quantos clássicos e finais eu não vi e revi os gols com os bordões folclóricos e aquele vozeirão rouco peculiar? Mal sabia aquele menino, fã do narrador, que um dia trabalharia com futebol e zueira, a zueira que esse senhor introduziu àquele universo. Menos ainda que um dia entrevistaria o cara, e ainda descobriria que foi a melhor entrevista que essa lenda já concedeu, na opinião do próprio. Incrível.

Depois da entrevista, tive o prazer de trocar uma ideia informal com ele. Pediu um café com três gotas de adoçante. E, no caminho até o estacionamento, foi me contando mais sobre as histórias que estão nas entrevistas. Foram duas quadras de papo. Falou da demissão da Band com tristeza, da 10ª Copa que queria ter narrado, de quando falaram que ele como narrador já era. Mas também falou do orgulho que tem de estar na TV aberta até hoje, forte e bom como sempre, do alto dos seus quase 85 anos.

Quando passamos na frente de um restaurante, dois ou três funcionários gritaram: "Minha nossa senhora! Pelo amor dos meus filhinhos! É o grande Silvio Luiz!". Ele respondeu com um aceno. "Opa, tudo bem, malandro?". E aí eu perguntei: "Silvio, é isso o tempo todo? Você tem paciência até hoje?". E ele respondeu, bem tranquilão. "Meu filho, o dia que não acontecer mais isso, eu tô morto".

Com vocês, o BTS com Silvio Luiz.

Sobre o Autor

Jornalista de formação, amante do futebol por paixão e corneteiro por vocação. Apresentador do canal Desimpedidos. Comanda o Bolívia Talk Show.

Sobre o Blog

As opiniões do personagem não refletem necessariamente a opinião do homem por trás da máscara. Mas quase sempre sim.