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Bolívia Zica

Um fóssil chamado centroavante

Bolívia ZIca

12/02/2019 15h19

Tem muita gente por aí que aplica a Teoria da Evolução ao futebol. Considera que os novos atacantes são descendentes de ancestrais comuns, que vão se modificando ao longo do tempo, se adaptando ao novo ambiente, saindo da área e voltando para marcar. Acredita que as espécies existentes foram evoluindo de espécies mais simples que viveram antigamente. Aham.

Que me desculpem os Charles Darwins do futebol. Seleção natural, para mim, é uma seleção que escale um centroavante nato. Cabra marcado para matar. Predador de sangue frio. Cruel e impiedoso. Resolve a questão básica com um único bote. Letal. Correndo atrás da bola ou abocanhando na base da emboscada. Tocaia.

O esquema tático que pariu essa teoria é conhecido como 4-2-2-2. Dois volantes, dois meias e dois atacantes pelas beiradas. Matou-se o matador com o pior pretexto possível. "É um a menos, ele não marca". Como assim, "não marca", meu consagrado? Marca gols, porra! Quer mais o quê?

Doutrinaram nossas crianças com a ideologia pragmática nas escolinhas. É um absurdo! Demonizaram justo a figura mais nobre, o encarregado de fazer o torcedor explodir, o iluminado que carrega a missão primária. Justo no Brasil de Romário, o 9 que usava a 11, e Ronaldo, um verdadeiro fenômeno da natureza. Os dois maiores fazedores de gols que o futebol já viu. Os donos dos pés que trouxeram as duas Copas que eu vi o Brasil ganhar. Já no ano passado, vi o camisa 9 da seleção abdicar dos gols para correr atrás do adversário. Teve seu poder ofensivo suprimido em nome da marcação.

Mesmo as grandes equipes da Europa, que são constantemente vistas como os grandes exemplos a serem seguidos, ainda contaram com um fóssil matador lá, dentro da área. Giroud na campeã França. Mandzukic na Croácia. Lukaku na Bélgica. Kane na Inglaterra. Diego Costa na Espanha. No Uruguai, nosso vizinho, tinha até dois dinossauros, Cavani e Suárez. Como pode? Que retrocesso!

Pois, por aqui, é cada vez mais raro encontrar um jovem e autêntico centroavante. Entre as grandes promessas de craque que exportamos recentemente – Vinicius Junior, Paquetá, Arthur, David Neres, Rodrygo – não tem um 9 sequer. Talvez o Pedro, do Fluminense, venha a ser um, caso volte bem da contusão.

Em Belo Horizonte, velhos centroavantes continuam a meter seus gols. Fred já tem quatro no Mineiro. Ricardo Oliveira fez sete. Dois deles no jogo de ida contra o Danubio. Tem tudo para fazer mais dois hoje, no Independência. Aproveitem enquanto esse tipo de bicho antiquado e ultrapassado ainda habita o ecossistema brasileiro. A era do Pastor e do Rei dos Stories, Neogolítica ou Idade da Bola Polida, infelizmente está perto do fim.

 

Sobre o Autor

Jornalista de formação, amante do futebol por paixão e corneteiro por vocação. Apresentador do canal Desimpedidos. Comanda o Bolívia Talk Show.

Sobre o Blog

As opiniões do personagem não refletem necessariamente a opinião do homem por trás da máscara. Mas quase sempre sim.